Osho, por favor, na pergunta “quem sou eu?”, o que “eu” significa? Significa a essência da vida?
“Quem sou eu?” não é realmente uma pergunta porque não há uma resposta para ela, ela é irrespondível. É um estratagema, não uma pergunta. Ela é usada como um mantra.
Quando você pergunta constantemente dentro de você “quem sou eu? Quem sou eu?”, você não está esperando por uma resposta. Sua mente lhe dará muitas respostas, todas essas respostas devem ser rejeitadas.
Sua mente dirá: “Você é a essência da vida. Você é a alma eterna. Você é divino”, e assim por diante. Todas essas respostas têm que ser rejeitadas: neti neti — a pessoa tem que continuar dizendo: “Nem isto nem aquilo”.
Quando você tiver negado todas as possíveis respostas que a mente pode dar e arquitetar, quando a pergunta permanecer absolutamente irrespondível, um milagre acontece: de repente a pergunta também desaparece.
Quando todas as respostas tiverem sido rejeitadas, a pergunta não tem nenhum apoio, nenhum suporte interno para continuar a existir. Ela simplesmente cai, sofre um colapso, ela desaparece.
Quando a pergunta também desaparece, então você sabe. Mas aquele saber não é uma resposta; é uma experiência existencial. Nada pode ser dito sobre ela, ou o que quer que seja dito será errado.
Dizer algo sobre ela é falsificá-la. É o mistério definitivo, inexprimível, indefinível. Nenhuma palavra é suficientemente adequada para descrevê-la. Até mesmo a frase “essência da vida” não é adequada. Nada é adequado para expressá-la, sua própria natureza é inexprimível.
Mas você sabe. Você sabe exatamente do mesmo modo que a semente sabe crescer — não como o professor que sabe sobre Química ou Física ou Geografia ou História, mas como o botão que sabe como abrir numa manhã ensolarada. Não como o padre que sabe sobre Deus, sobre e sobre ele vai, em torno e em torno, ele vai.
O conhecimento divaga, a sabedoria é uma penetração direta. Mas no momento que você penetra diretamente no interior da Existência, você desaparece como uma unidade separada. Você não é mais. Quando aquele que sabe não é mais, o saber é. E o saber não é sobre alguma coisa — você é o seu próprio saber.
Então eu não posso dizer, Sander, o que “eu” significa na pergunta “quem sou eu?”. Não significa nada! É simplesmente um estratagema para lhe levar para dentro do inexplorado, para lhe levar para dentro daquilo que não é viável à mente.
É uma espada para cortar as próprias raízes da mente, então somente o silêncio da não-mente é deixado. Naquele silêncio não há nenhuma pergunta, nenhuma resposta, nenhum sabedor, nenhum sabido, mas somente sabedoria, somente experiência.
É por isso que os místicos parecem estar com tanta dificuldade para expressá-la. Muitos deles permanecem silenciosos por estarem conscientes que o que quer que você diga sai errado. No momento em que você diz, dá errado. Aqueles que falaram, eles falaram com essa condição: não se apegue às nossas palavras.
Lao Tzu diz: “O Tao, uma vez descrito, não é mais realmente Tao. No momento em que você diz alguma coisa sobre ele você já o falsificou, você já o traiu. É uma sensação muito íntima, incomunicável”.
“Quem sou eu?” funciona como uma espada para cortar todas as respostas que a mente possa dar. As pessoas Zen dirão que é um koan, exatamente como outros koans. Existem muitos koans, famosos koans. Um é: “Descubra a sua face original”. E o discípulo pergunta ao Mestre: “Qual é a sua face original?” E o mestre diz: “A face que você tinha antes que seus pais tivessem nascido”.
E você começa a meditar nisto. “Qual é a sua face original?” Naturalmente, você tem que negar todas as suas faces. Muitas faces vão aparecer na superfície: faces da infância, quando você era jovem, quando você estava na meia-idade, quando você ficou velho, quando você era saudável, quando você ficou doente… todos os tipos de faces vão aparecer como numa fila. Elas passarão diante de seus olhos reclamando: “Eu sou a face original”. E você terá que continuar rejeitando.
Quando todas as faces forem rejeitadas e ficar o vazio, você terá encontrado a face original. O vazio é a face original. Zero é a suprema experiência. Nada é sua face original.
Um outro famoso koan é: “O som de uma mão batendo palma”. O Mestre diz ao discípulo: “Vá e ouça o som de uma mão batendo”. Agora isto é claramente um absurdo: uma mão não pode bater palma e sem bater palma não pode haver nenhum som. O Mestre sabe disto, o discípulo sabe disto. Mas quando o Mestre diz: “Vá e medite nisto”, o discípulo tem que atender.
Ele começa a fazer esforços para ouvir o som de uma mão batendo palmas. Muitos sons vêm à sua mente: os pássaros cantando, o som de água correndo… ele corre imediatamente para o Mestre; ele diz: “Eu ouvi! O som de água correndo – não é esse o som de uma mão batendo palma?”
E o Mestre bate fortemente na cabeça dele e diz: “Bobo! Volte, medite mais!”
E ele continua meditando, e a mente continua dando novas respostas: “O som do vento passando através dos pinheiros – certamente essa é a resposta”. Ele está com tanta pressa. Todo o mundo está com pressa. Imediatamente ele corre para a porta do Mestre, um pouco apreensivo, temeroso também, mas pode ser que seja essa a resposta…
E mesmo antes dele dizer uma única coisa o Mestre bate nele. Ele está muito confuso e diz: “Isto é demais! Eu nem mesmo disse uma única palavras, então como posso estar errado? E por que você está me batendo?”
O Mestre diz: “Não é uma questão de ter dito alguma coisa ou não. Você veio com uma resposta, isto é o bastante para provar que você deve estar errado. Quando você tiver realmente descoberto você não virá, não haverá necessidade. Eu irei a você”.
Algumas vezes se passam anos, e um dia acontece, não há nenhuma resposta. Antes o discípulo sabia que não havia nenhuma resposta, mas era apenas um saber intelectual. Agora ele sabe do seu próprio ser: “Não há nenhuma resposta!” Todas as respostas evaporaram.
E o sinal correto de que todas as respostas evaporaram é somente um: quando a pergunta também evapora. Agora ele está sentado silenciosamente, não fazendo nada, nem mesmo meditando. Ele se esqueceu da pergunta: “Qual é o som de uma mão batendo palma?” Não está mais ali. É puro silêncio.
E existem maneiras… existem caminhos internos entre um Mestre e um discípulo. E agora o Mestre corre em direção ao discípulo. Ele bate na porta. Ele abraça o discípulo e diz: “Então aconteceu? É isto! Nenhuma resposta, nenhuma pergunta: É isto. Ah, isto!”
“Neti Neti é uma técnica de meditação conhecida no Jñana Yoga, trazida dos Upanishads e do Advaita Vedanta. É uma prática de meditação para o esvazio da mente e iluminação espiritual. Do sânscrito, significa “nem isso, nem aquilo”, “isso não, isso não” ou, ainda, “além disso, além disso”. Com a prática, é possível aniquilar a mente esvaziando-se de todos os pensamentos, apegos, identificações e do “eu”. Confira essa explicação de Cristian Dambrós. Acessa aqui!.
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Meditação Neti Net com com Prema e Abhishek
https://www.youtube.com/watch?v=cQTjeZbo85M
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